Antologia de Jorge Amado conta com Artigo do Professor Denílson Araújo – DEPEC/UFRN
Boas novas para a
comunidade intelectual potiguar! Divulgado o resultado do Prêmio Valdeck Almeida de Jesus 2012.
No
ano do centenário de aniversário do brilhante escritor Jorge Amado, o Professor Denílson Araújo, do Departamento de
Economia da UFRN, teve seu artigo
selecionado para compor a primeira antologia do Grande Mestre. O concurso para
seleção dos artigos contou com a participação de escritores internacionais
(EUA, Suíça, Portugal, Reino Unido, dentre outros) e nacionais. Das centenas de
artigos enviados para o concurso, foram selecionados, a priori, 62 artigos, que
comporão a antologia que será publicada em dezembro deste ano.
A
homenagem a um dos maiores autores da literatura brasileira teve o apoio da União
Brasileira dos Escritores, Núcleo Baiano. O concurso literário promovido pelo
jornalista Valdeck Almeida de Jesus é uma iniciativa divulgada no Eixo 4 do
Plano Nacional do Livro e Leitura, do Ministério da Cultura.
A
obra de Jorge Amado, fonte de aprendizado e de paixão por nossas
regionalidades, encantou e encanta gerações de brasileiros. O Professor
Denílson Araújo, influenciado pela obra “amadiana” em sua carreira
profissional, escreveu em forma de agradecimento este lindo artigo que será
publicado em homenagem ao grande escritor baiano. Parabéns ao Professor
Denílson Araújo pela aprovação de seu artigo e por sempre incentivar seus
alunos a uma boa leitura complementar aos estudos sobre economia brasileira e
regional.
Segue
abaixo o artigo na integra:
(Artigo) Por Denílson Araújo
A Construção Econômica e Social de Jorge Amado: O País do
Carnaval, Cacau e Suor; Capitães da Areia; Os Velhos Marinheiros;
A literatura brasileira fez parte de minha infância pobre. Quando
ainda criança, minha mãe lia os maravilhosos romances de Jorge Amado para que
eu e meus irmãos não ficássemos tão defasados culturalmente em relação às
outras crianças que tinham acesso ao frágil sistema educacional brasileiro. Meu
pai, um velho comunista, se não o fosse, seria um “Velho Marinheiro”. Apesar de
sua pouca formação escolástica, amarrou com várias cordas seus filhos no mundo
mágico da literatura brasileira, em especial, à obra de Jorge Amado. Como “Os
Velhos Marinheiros” – de Amado – que, em sua ingênua torpidez profissional ordenara
aos sarcásticos marinhos que amarrassem o barco sob o seu comando com todas as
cordas possíveis, salvando-o da deriva que o vendaval causara aos demais, em
certo cais da Bahia, meu pai salvara-nos da dura realidade da baixada
fluminense, dos sofríveis anos da ditadura militar, dos esquadrões da morte,
dos tóxicos fluídos e da farta prostituição dos menores de idade. Nestes
termos, éramos todos “Capitães da Areia” e, como capitães das ruas da Baixada
Fluminense, não pudemos viver outra vida senão aquela que a práxis cotidiana
impusera-nos a viver. Diferentemente de muitos amigos que não resistiram aos
infortúnios de uma vida de privações, fui salvo pela literatura Jorge Amadiana.
Horas a fio lendo a vasta obra de Jorge Amado não apenas me tirou
das ruas, mas permitiu-me enxergar o “País do Carnaval”, do “Cacau” e do “Suor”
de forma absolutamente diferente da que me ensinavam nas ruas e na precária
Escola Estadual do Bairro da Chacrinha, em Duque de Caxias, no Rio de Janeiro.
A partir desses três livros de Amado resolvi ser diferente. Queria poder ajudar
os outros adolescentes a entender o mundo como ele se apresentava, mas de forma
crítica. Entendê-lo para mudá-lo. Como Jorge Amado, queria ensinar a pensar.
Fui absolutamente possuído por um sentimento de entendimento e mudança. Queria,
como Jorge Amado, ensinar o país a se apaixonar por si mesmo. Ensinar aos
brasileiros amar ser brasileiro. Ao nordestino, amar ser nordestino. Com este
pensamento passei a me dedicar aos estudos.
Após um excelente curso de Segundo Grau, ingressei na Universidade
Federal com apenas um pensamento: ensinar os jovens brasileiros a amar esse
país e seu povo. Tonei-me professor de Formação Econômica do Brasil. O mais
espetacular de tudo isso é que ainda hoje acompanho a literatura de Jorge Amado:
ou será o contrário? Minhas áridas aulas de Formação Econômica tornam-se plumas
ao vento com os exemplos que subtraio d’O País do Carnaval, Cacau e Suor; de
Tereza Batista Cansada de Guerra; de Capitães da Areia; de Farda, Fardão Camisola
de Dormir; Jubiabá; e de tantos outros clássicos do Professor Jorge Amado.
Mas, a vida não é só dureza. Por esta razão, Jorge Amado a
encantou e doou-lhe doçura com suas mulheres. Ah... quão lindas são as mulheres
de Amado: queria tê-las, todas: a irreverente Tieta do Agreste; a fogosa Dona
Flor e Seus dois Maridos; a poderosa e
encantadora Tereza Batista; e ela, a Deusa: Gabriela, Cravo e Canela. Não
lembro de outro autor que tenha doado tanta dedicação às mulheres nordestinas,
às brasileiras. Jorge Amado era assim, confundia-se com seus livros. Falava do
povo; das festas religiosas da Bahia; das cachaças nas ruelas, nos guetos e no
cais de Salvador; de suas economias de exportação; dos poderosos Santos
populares, que na Bahia sempre fizeram milagres... lembro que a dor dos negros
e do povo baiano sempre foi menor do que sua alegria, seus ritmos e suas artes
em geral: isso é um milagre. Com Jorge Amado aprendi que na Bahia, como em todo
o Brasil, o povo resistiu: a todos, a tudo.
Por fim, registro que estou pronto para a vida. Quero continuar
com Jorge Amado e perto do meu povo. Juntos, Jorge e eu, continuaremos
insistindo em um Brasil mais justo, mais limpo das imoralidades das elites
conservadoras. Lutaremos por um Brasil colorido por negros, brancos, índios e por
tantas outras cores como: verde, azul, branco e amarelo. Ficaremos aqui, no
Nordeste. Ficaremos aqui, no Brasil.
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