Juventude - esperança social

Gostaria de iniciar este meu post com um pedido de desculpas aos leitores do Blog Economia e Outras Coisas por ter deixado o blog meses sem novas postagens. Este pedido de desculpas vem acompanhado com um presente a todos os leitores do Blog, que é a postagem do Discurso do Paraninfo - Turma de Ciências Econômicas-UFRN 2012.2, o Querido e Severo Mestre Dr. Marconi Silva. Apesar de rigidez de um pai que educa, possui o coração de uma mãe que dedica toda atenção a todos seus pupilos. O belíssimo discurso a seguir nos faz refletir sobre nossas escolhas, nossas lutas, nossos sonhos.


"MENSAGEM AOS CONCLUINTES DO CURSO DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS DO PERÍODO LETIVO 2012.2

Marconi Gomes da Silva (Paraninfo)

         De partida, quero registrar que acolhi com profunda alegria o convite, a mim formulado, para assumir a condição de paraninfo da turma que ora conclui o Curso de Ciências Econômicas. Então, quero, ao mesmo tempo, agradecer pela singeleza do convite e parabenizá-los pela conquista e pela paciência em me ouvir mais uma vez, após as várias disciplinas cursadas comigo.
         Uma vez aceito o convite, passei a pensar na escolha do tema, buscando um que se mostrasse minimamente adequado ao momento. Portanto, embora se trate de uma ocasião que marca a realização de um sonho, parte de um projeto de vida, abordarei um tema conexo, pois me parece que tal concretização somente foi possível graças à ação permanente de um instrumento que os moveu ao longo da trajetória. Sem usar o rigor conceitual que costumava exigir em sala de aula, defenderei que o móvel ao qual me refiro é, na realidade, um sentimento genuinamente humano que é uma construção imaginária, abstrata, mas ao mesmo tempo, o seu contrário: uma âncora sólida, inquebrantável, que propicia aos seres humanos a travessia entre o presente e o futuro. É dessa forma que entendo a ESPERANÇA – tema que abordarei em seguida, buscando relacioná-lo com o ato da formatura.
         Desde a mais tenra idade ouço a expressão: “brasileiro, profissão esperança”. O tempo e a reflexão me fizeram entender que se tratava (e se trata) de uma expressão pejada de negatividade, sendo explicitadora da ideia de que o brasileiro é um povo a esperar ad infinitum por um futuro que jamais tornar-se-á realidade. Me parece uma ideia equivocada, destituída do verdadeiro significado da real esperança, bem como do povo brasileiro.
         Na realidade, a esperança é um sentimento que envolve espera porque relaciona-se a processos que envolvem tempo, sendo que alguns exigem menos e outros mais. Embora, contemporaneamente, algumas abordagens enfoquem a existência de uma compressão do espaço-tempo em decorrência de conquistas tecnológicas, inexistem referências à eliminação do tempo. Na realidade, o ser efetivamente dotado de esperança não espera passivamente, mas de forma permanentemente ativa. Espera enquanto age e age enquanto espera. Nesse sentido, acredito que não somente os brasileiros, mas todos os seres humanos são igualmente dotados de esperança.
         Esta breve introdução sobre a esperança me permite voltar a abordar a formatura que ora se realiza. A trajetória de todos vocês envolveu o enfrentamento do vestibular - uma luta árdua – a escolha do curso e a aceitação das exigências do currículo em vigor. No caso específico, a exigência de cumprimento de uma carga horária de 2.700 horas em um tempo médio de quatro anos e meio. Para a viabilização deste momento não foi possível a nenhum de vocês a eliminação do tempo, embora alguns tenham abreviado o curso em um semestre. Por outro lado, outros esperaram um pouco mais. Porém, é fato: todos tiveram que agir de forma obstinada para concluir o curso, pois reconhecidamente para concluir o curso de Economia é preciso estudar muito! E destaco: isto muito nos honra, embora no nosso caso, a propalada taxa de sucesso não esteja entre as melhores da UFRN. A explicação é simples: dentre os vários fatores que condicionam esta situação está o rigor utilizado na avaliação do desempenho dos nossos alunos. E espero que não caiamos na tentação da melhoria da taxa de sucesso como mera formalidade. Devemos buscá-la incessantemente em associação a um requisito fundamental: a qualidade da formação dos profissionais colocados à disposição da sociedade.
         Tenho certeza, jovens formandos, que vocês têm consciência de que a conquista do curso superior significou a realização de um projeto pessoal que somente foi possível, por se encontrar, em última instância, ancorada em sólida esperança social. Assim, tratou-se, em parte, da realização de um projeto familiar, pois seus pais por amor a vocês e pelo compromisso com a reprodução social, engajaram-se tenazmente desde a fase pré-escolar, atuando a rigor como mestres, buscando ensinar não mero ofício, mas sobretudo valores que propiciassem orientação para as relações estabelecidas até este momento, bem como para as novas relações que serão desenvolvidas durante suas longas vidas.
         Ao mesmo tempo, este momento é fruto das múltiplas interações estabelecidas no interior da UFRN: a constituição de grupos de estudos e de baladas; as frequentes demandas à coordenação do curso, à secretaria, à chefia do departamento e às demais instâncias da UFRN, bem como as relações com os professores - que certamente oscilaram entre o amor e o ódio.
         É fato que as trajetórias no curso de economia foram diferenciadas em decorrência de fatores os mais diversos, dentre os quais assumiram posição de destaque as condições de partida. Tem sido defendido por vários autores das ciências sociais no Brasil que as condições de desigualdade ainda prevalecentes no país guardam estreita relação com as estruturas de poder que mantiveram-se persistentes ao longo dos séculos. Entretanto, a história tem mostrado que persistência não significa inalterabilidade.
         De qualquer modo, é necessário ressaltar que no âmbito do período desenvolvimentista no Brasil, que alternou fases democráticas e autoritárias, ao Estado foi atribuído algum comprometimento com o ensino público, em especial com o ensino superior. Assim, embora as condições de partida tenham sido diferenciadas, a trajetória na Universidade foi facilitada pela existência de um sistema, ainda problemático, de ensino público no país. Assim, entendo que o povo brasileiro participou da esperança coletiva que contribuiu para a formação de vocês, através do financiamento do ensino público que atuou no sentido da atenuação dos problemas inerentes às diferentes condições de partida para a formação intelectual.
         Tenho certeza de que todos os docentes aqui presentes partilham a convicção de que vocês estão prontos para se inserirem profissionalmente em distintas áreas de atuação: em instituições públicas ou privadas, em organizações sindicais e classistas etc. Também partilham a ideia de que alguns atuarão decisivamente nesta Universidade: uns, de imediato, como alunos de pós-graduação, outros como técnicos, outros como docentes, em continuidade ao trabalho tão bem-sucedido de renovação em andamento no departamento de Economia nos últimos anos. Mas, estejam certos: temos uma profunda esperança na atuação profissional e social de vocês.
         Para finalizar, preciso destacar que são inequívocas as conquistas econômicas e sociais no Brasil no início do novo milênio: trajetória de razoável crescimento, melhoria das contas públicas e das contas externas, além de importante melhora dos indicadores de desigualdade de renda – aliás, fenômeno comum a outros países da América Latina.
         Diletos concluintes, tudo indica que o Brasil saiu da condição de país do futuro para tornar-se um país do presente, por força da atuação persistente e diligente do povo brasileiro, que não espera passivamente, mas age cotidianamente para legar às novas gerações um país cada vez melhor. Porém, deve ser ressaltado que se é verdade que o Brasil atingiu um ponto de reconhecida relevância em âmbito mundial, as perspectivas para as próximas décadas, segundo a lavra do professor José Luís Fiori, não vão além da condição de potência regional – o que por si só já exigirá postura firme e obstinada desde então. Entretanto, é necessário destacar que o futuro não está pré-definido. É construção. É produto. Precisa ser definido como projeto e tem que ser perseguido com afinco. Exige espera e exige ação. Para tal, é necessário grande engajamento da sociedade brasileira e temos a convicção de que vocês estarão fortemente engajados neste processo. Temos esperanças nas suas ações para a construção de um Brasil e de um mundo cada vez melhores, onde todos possam elaborar e realizar projetos, cada vez mais em condições de igualdade.
         Enfim, profundamente esperançoso quero, mais uma vez, parabenizar os formandos e declarar que era o que tinha a dizer! Muito obrigado!

Natal(RN), 28 de fevereiro de 2013."

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